02 jul 2010
Eu não quero ser uma menina Photoshop.
Se eu for, pra onde irão meus poros entupidos da minha adolescência que ainda resiste, mesmo eu sabendo que ela já foi embora?
E as pintinhas que tenho desde a infância, que serviam de guia pro meu pai se ver em mim, que será feito delas? Serão eliminadas com algum novíssimo botão que estreou na mais nova versão do programa?
Meus olhinhos pequeninos, que se encolhem no sorriso, serão aumentados certamente. E o sorriso? Vai embora, então. Provavelmente, não vai combinar com as mudanças feitas.
E como hão de se revelar mais as minhas ruguinhas e linhas de expressão, cultivadas à custo de muita alegria, natural ou comprada em algum boteco pé sujo?
Se eu for essa menina e não mais aquela que te fala, não terei mais a cicatriz no joelho que ganhei roubando ovos do meu próprio tio com sua filha, minha prima, pelo puro prazer de uma adrenalina fingida aos nove anos de idade, quando Minas Gerais deixou de ser apenas mais um estado no mapa pra ser um local onírico infantil.
A adrenalina durou dois segundos, foi cortada junto com o joelho, mas a cicatriz perdurou, que era pra assegurar que perduraria também a lembrança da família, da infância.
Se eu for uma menina Photoshop, o programa vai me tirar isso também?
E os meus furinhos embaixo dos pés, que ganhei brincando no quintal com minhas amigas, quando enfiar pés nos pregos era o desfecho de uma infância gaudéria e o início de uma meninice, em que precisava do socorro de um príncipe encantado. Isso também será retocado?
Todo refrigerante que bebi com gosto, as cervejas que bebi sem gosto nas noites de bebedeira, serão olvidadas quando minhas celulites e minha barriguinha proeminente forem extirpadas com alguns cliques!
Junto irão minhas estrias, com meus piques de crescimento, junto com o dia em que percebi que Deus, assim como eu havia pedido, tinha me dado seios grandes! *.*
As ondas do meu cabelo , que se adaptaram a um novo clima e me tiraram meu ar de indiazinha certamente serão de novo alisadadas, e mais um capítulo daquela tal adolescência se irá, de vez.
Mas então se é pra perder a alegria da vida, meus laços filiais, os momentos gostosos que passei até aqui, pedaços de quem eu sou (de novo), não vou ser uma menina Photoshop!
Dê-me cá minhas celulites, minhas estrias, meus pernões, peitões e barriga, meu cabelo ruim, minhas rugas e pintinhas e todas as minhas imperfeições, que assim acho que eu sou bem mais feliz!
E que eu me lembre, é isso que importa: ser feliz!
2 comentários:
Eu adorei esse texto!
Mas eu to aqui mesmo pra comentar um outro texto que eu acabei de ler e que mora ali embaixo: "Zona Sul X o resto". Eu estou na ZS há dois anos e meio. Antes, eu era da ZN [seu namorado já foi à minha ex-casa, pergunte a ele]. O choque de realidade é BRUTAL. Concordo com tudo que vc no post, é tudo muito real. Só se mudando mesmo é que vc percebe que não é natural faltar luz/água/gás e demorarem dias pra consertar e que tb não é natural a má conservação das ruas e praças. Na zona sul, as coisas funcionam, a cidade flui. E, eu pelo menos, só me dei conta disso quando me mudei... Realidade tristíssima, mas o Rio de Janeiro é mesmo uma cidade partida...
Bjos!
Boa tarde antes de mais parabens pelo blog. gostaria de fazer parceria com o meu blog http://reggaecarros.blogspot.com/ grato.
Postar um comentário