sexta-feira, 28 de maio de 2010

Parte II - Aluguel, a odisseia

Quando reclamei da burocracia com a terapeuta, ela me acolheu gentilmente:

 

-         Você não queria participar do mundo de gente grande? Seja bem-vinda! É sempre assim.

 

Claro que eu sabia que seria difícil e que tomaria muito não na cara no decorrer da vida. Mas as minhas esperanças tão grandes de que fosse dar tudo certo, meu otimismo excessivo sofriam um bocado com os obstáculos colocados no caminho.

Foi difícil achar apartamento e quando achamos, o número de exigências era tão grande que quase me desesperava. Nouveau sempre esteve lá, segurando a minha mão enquanto engolia a própria ansiedade goela abaixo.

Fiz várias visitas a cartórios e imobiliárias, conheci pessoas legais e algumas desagradáveis. Perdi muitas horas andando pelas ruas correndo atrás de documentos ou andando de mãos dadas com meu namorado, ambos desolados momentaneamente com um aluguel muito caro ou um apê que parecia dos sonhos no jornal e ao vivo não passava de um quarto com uma pia embutida.

 

                                                                ***

 

Quando achamos nosso cantinho e garantimos que nossa proposta fosse a primeira e única, enfrentamos mais problemas burocráticos e, no fim das contas, precisaríamos da ajuda de nossos pais.

Andando pelas ruas de Botafogo, depois de ver um outro apê no qual não colocamos muita fé, nos sentíamos um tanto quanto derrotados.

Que independência de merda era essa que a gente ainda precisava de mais um empurrão de nossos pais pra podermos dar o primeiro passo?

A verdade é que pais nunca deixam de ser pais, e no início da vida, quando a gente é jovem e não tem grana, por mais que a gente já se banque, arrume seu quarto e limpe a bunda sozinho, os pais são necessários.

E eles gostam de saber disso. Já ouviu falar da Síndrome do Ninho Vazio? Falo mais disso depois, mas basicamente é isso: os pais criam os filhos pra que, um dia, eles possam voar sozinhos. Mas a verdade é que a gente sempre acaba voltando pro ninho de uma forma ou de outra.

A dificuldade em ver os filhos alçando voo e abrindo mão da ajuda parental é que se trata da Síndrome do Ninho Vazio.

E a minha mãe pode explicar isso bem demais.

 

[...]

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