Assim que encontramos o apê, fui pra casa toda feliz contar que íamos iniciar os trâmites de locação.
Minha mãe, que até então estava se esforçando pra ser politicamente correta, escondeu o rosto na hora de verter algumas lágrimas.
Isso foi o princípio de inúmeras reações de ciúmes irracionais e desmedidas, que eu não ouso nem especificar, que é pra não expor a pobrezinha.
Pra piorar tudo, ela não poderia estar em posição mais vulnerável. Além de ter que me dividir com meu namorado e com a família dele, que agora queria conviver mais com a mulher que o tiraria de casa, estava se recuperando de uma cirurgia e se aposentando!
Acho que tínhamos motivos pra comemorar, celebrar a vida, as vitórias e as conquistas, mas discutíamos o tempo todo por conta de chantagens emocionais.
Como eu sou uma xuxu sem remédio, embarco nas solicitações alheias com a maior facilidade, mas um dos propósitos de sair de casa era viver a minha vida, seguir meu caminho e tomar minhas próprias decisões, sem interferência tão incisiva das vontades da minha família.
O objetivo era também quebrar alguns ciclos comportamentais que se tornaram cíclicos e viciados.
Enfim, prefiro compreender tudo e relevar, afinal, se eu fosse mãe, não sei como eu reagiria ao ver a minha filha, minha amiga e companheira sair de casa. Por mais feliz que ela estivesse em algum momento eu seria egoísta, pensaria em mim, na minha saudade. E isso poderia acabar se refletindo em algum comportamento passional que demonstraria o meu medo de perda.
E isso é um reflexo da Síndrome do Ninho Vazio, que acometeu a minha mãe e um dia pode acometer a sua também.
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